Com cartazes, guias informativos e álcool gel, estabelecimentos comerciais, escolas e empresas tentam minimizar os riscos de contágio
Logo na entrada de um restaurante no Itaim Bibi, Zona Sul de São Paulo, o cliente é recebido de forma diferente: na porta, uma funcionária com álcool gel em punho oferece o líquido para desinfetar as mãos. A rotina mudou há alguns dias, quando o novo coronavírus chegou ao país. Potes de álcool gel, cartazes e recomendações também se multiplicam em academias, escolas, condomínios e em transportes.
Com 34 casos confirmados até agora no Brasil, a Covid-19 mudou a rotina da vida das pessoas. E as medidas de prevenção popularizaram a expressão “etiqueta respiratória”, uma referência às ações que podem ajudar a reduzir o contágio.
“É uma medida preventiva. Sabemos que menos de 10% dos nossos clientes lavam as mãos antes de comer, então oferecemos o gel. Isso ajuda até na conscientização”, afirma Ana Lúcia Jerkic, uma das donas do restaurante Natural das Anas. “Vi isso em um navio em 2009, quando o mundo estava vivendo o surto do H1N1.”
Segundo ela, a maioria dos clientes reage bem e aceita o álcool gel. Os pegadores do buffet também passaram a ser trocados a cada meia hora, em outro esforço para reduzir a proliferação de vírus e bactérias.
Recentemente, também por conta da epidemia, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) disponibilizou um e-book para proprietários de estabelecimentos. O guia traz boas práticas para lidar com o risco do coronavírus.
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Álcool gel também se tornou um item mais comum no transporte. A empresa 99 orientou seus parceiros a adotar medidas da tal etiqueta respiratória, como lavar as mãos, evitar pegar nas mãos dos clientes e, sempre que possível, manter as janelas dos carros abertas.
A cartilha indica sete medidas para os motoristas e usuários: lavar as mãos frequentemente e sempre com água e sabão; complementar a higienização, quando possível, com álcool em gel 70%; ao tossir e espirrar, cobrir boca e nariz com lenço descartável ou com o braço; evitar tocar olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas; evitar contato físico com o motorista, como aperto de mãos; andar com os vidros do carro abertos para arejá-lo sempre que possível; evitar aglomerações e manter os ambientes ventilados.
“Na época da H1N1, cheguei a pegar uma passageira que estava usando tamiflu (medicamento usado para tratamento de H1N1). Fiquei com medo, claro. Então agora não custa prevenir”, diz um taxista há 23 anos no ramo, que leva álcool gel no carro.
As recomendações também chegaram a academias, que têm enviado e-mails com orientações da etiqueta respiratória e publicado posts nas redes sociais sobre o tema, além de cartazes na parede com as recomendações do Ministério da Saúde.
Sobre condomínios residenciais, empresas de administração afirmam que, mais que potes de álcool gel nas áreas comuns, moradores têm pedido limpeza reforçada nas academias de prédios, maçanetas e até botões de elevadores.
Nos aeroportos, além da paisagem frequente de passageiros usando máscaras, os serviços também se adaptaram à epidemia – incluindo salas de espera e espaços vip.
ESPAÇO VIP EM AEROPORTO
Pamela Stein, gerente geral do grupo Plaza Premium Lounge no Brasil, afirma que a empresa está adotando nas cinco estruturas que mantém no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, os mesmos procedimentos que começaram na sede da empresa, em Hong Kong:
“Os talheres agora são embalados individualmente. E toda refeição é servida em embalagens fechadas ou, quando expostas, ficam com tampas”, disse ela.
A empresa também está disponibilizando máscaras e álcool em gel para clientes e funcionários e colocando em displays informações sobre a chamada “etiqueta respiratória”. Por dia, passavam por suas salas, incluindo a da Star Alliance, de 750 a 1.050 pessoas por dia.
“Mas estamos vendo o movimento cair, com muita gente remarcando voos”, diz ela.
Além da etiqueta respiratória, entrou na moda outra expressão, o “coronakiss” – beijo sem contato com o rosto da pessoa ao cumprimentá-la. E há quem defenda também o fim dos apertos de mão.
Nos Estados Unidos, já há comércios pedindo, com cartazes, “áreas livres de apertos de mãos”. Mudanças de rotina também foram vistas no mercado de trabalho, com o “home office” na berlinda.
na Luiza Farias, analista de governança corporativa em Washington, afirma que, aos poucos, alguns hábitos vão sendo alterados na capital americana. Ela cita, por exemplo, um cartaz de um café no elegante bairro de Georgetown que proibiu apertos de mãos. Mas muita coisa ainda segue igual, ao contrário de países considerados mais endêmicos, como Itália ou Irã.
“O que vejo é as pessoas falando muito de coronavírus, perguntando se as pessoas já lavaram as mãos e mais tempo nos banheiros, lavando as mãos”, disse ela. “Mas não vejo ainda restaurantes, cinemas e ruas vazias.”
REGRAS PARA ‘HOME OFFICE’
Leonardo Echenique, sócio do Mattos Engelberg Advogados, afirma que empresas e funcionários precisam estar atentos ao que pode ou não ser feito por causa do coronavírus no ambiente profissional. Ele alerta, por exemplo, que a empresa pode determinar o “home office”. Mas com regras:
“A empresa precisa arcar com as despesas, como gastos de luz e internet, e dar condições de trabalho, como equipamentos. E, mesmo em casa, o funcionário tem direito ao tíquete alimentação”, afirma.
Se a empresa mantiver seu funcionamento normal, deve atuar para manter um ambiente saudável – disponibilizando os famosos potes de álcool gel, por exemplo.
“Caso a pessoa esteja com baixa imunidade, e tiver atestado médico, pode pedir home office”, ressalta.
MULTIPLICAÇÃO DO ÁLCOOL EM GEL
Outra mudança comportamental no Brasil foi na venda de álcool em gel. De acordo com a EBIT|Nielsen, as vendas do produto em fevereiro foram quatro vezes maior que em janeiro.
Somente as vendas on-line do produto ultrapassaram R$ 1 milhão.“A procura pelo produto ficou mais intensa a partir da confirmação do primeiros caso no país, em 26 fevereiro, levando os brasileiros a intensificar as compras do produto”, informou a EBIT|Nielsen.
A empresa ainda informa que o desempenho do item “álcool de limpeza” também foi expressivo neste período. A expansão em fevereiro foi de 25% na comparação com janeiro e duas vezes maior em relação a dezembro do ano anterior, segundo a EBIT|Nielsen.
Fonte: Época